Comidas do quintal

A brincadeira de casinha, muitas vezes, está basicamente atrelada aos cuidados, vemos mães e pais cuidando de seus filhinhos, colocando-os para dormir, vestindo-os e principalmente cozinhando para eles. A cozinha da casa pulsa!!!!Vibra!!!! E clama pela imaginação!!! As comidas imaginárias logo pedem suporte, queremos cozinhar e qual será nossa comida? Neste momento encontramos folhas, terra, areia, pequenas sementes, flores, massinha, água, papel picado, tecido e até a combinação entre eles podem se transformar em pratos deliciosos!! 

"O brincar não tem especialidade técnica; está mais próximo do trabalho do artesão do que do homem industrial. O material do brincar, do brincar dos restos, especialmente dos restos naturais, traz a matéria essencial sem os racionalismo do brinquedo pronto, amiudado à realidade. É a memória do primitivo trato inventivo com o mundo natural e da exigência de conhecê-lo para habita-lo. ( PIORSK,2016, p.103).

Muitas vezes ao olharmos as crianças em seus brincares nos recordamos também da criança que fomos e a que ainda podemos ser, nos misturamos à elas na busca pela matéria, podemos ajudá-las a encontrar outras formas e olhar para outros lugares, como embaixo das árvores e dentro das flores, elas também nos ajudam mostrando texturas, pegando água escondido e nos surpreendendo com sopas impressionantes.

O brincar se coloca como pesquisa, pesquisa e descoberta. Descobrir os cheiros ao macerar as folhas, flores e sementes, ao descobrir o que tem dentro das sementes, ver as flores, folhas flutuarem nas águas e as pedras afundarem. Descobrir um caldo colocando mais água na terra ou ainda fazer bolinhos e criar uma técnica/receita para eles: primeiro faça o bolinho com as mãos, passe na água e polvilhe terra seca, repita o processo e pronto!!! Ensinamos para o amigo ao nosso lado, ele cria outro e ao nos darmos conta a cultura infantil aos nossos olhos praticada.

As farinhas convidam à uma mordida, amassamos, cortamos e picamos, deixamos mole, nossas mãos se transformam, exalam cheiros que lembram pão e fome e uma vontade de sujeira, de se libertar de sentir na pele o úmido, o quente e a meleca, de mostrar nojo e rir disso. A areia moldada e modelada, o momento da espera e da angústia ao tirarmos o pote para ver se o bolinho saiu direitinho e no fim destruí-los com gosto!!

Quantas experiências deixamos de enxergar nas escolas quando privilegiamos o papel, eles não dizem quase nada sobre coisa alguma. Quem se lembra mais do cheiro do álcool das folhas mimeografadas do que estava escrito nelas? Há um grito contido na infância e que precisamos liberta-lo e mais ainda, percebê-lo e soltá-lo junto com as crianças.
















Margarida Barbosa

Referência Bibliográfica:

PIORSKI, Gandhy. Brinquedos do Chão. A natureza, o imaginário e o brincar. São Paulo: Periópolis, 2016.

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